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Ética e Princípios

Viver numa sociedade contemporânea tida como humanamente evoluída é muito mais que utopia. É surrealismo puro. É divagação dentro do devaneio. É impossível ficar alheio neste mundo insano, nesta sociedade carcomida e corroída pela ganância desmedida em prol do imperialismo.

Não se aplica tal pensamento somente num pensamento global de império e dominação. Tal pensamento está implícito dentro da mente humana desde o princípio dos tempos. É a sede de poder, a sede de propriedade sobre a terra e sobre as almas.

Vivemos todos sob a égide do abominável, onde, a falta de ética e o caráter desprovido de princípios, traça planos sobre a vida das pessoas. Traçam os objetivos sem receio da justiça, com a certeza da impunidade.

Onde poderemos nos ater quando vemos as instituições coniventes com o poder?

Onde poderemos encontrar um porto seguro, quando todos os portos estão sob controle da corrosão institucionalizada e legalizada? Não podemos assistir passivamente a tais desmandos sem que possamos fazer algo.

Sentir muito é muito pouco. É preciso ser muito mais. É preciso, no amanhã, redobrar as forças e ir de encontro a este mar que não cessa. Este mar de maldades e impropérios coberto de mazelas. Parece um caos?

Não. Assim é, em síntese, a sociedade tida como “elite”.

Assim é sentido o grande amontoado de interesses ao redor de um único objetivo: espoliar, explorar e expropriar o cidadão que luta a cada dia em busca da sobrevivência digna e decente.

Quando vemos as instituições que foram criadas para agirem em defesa dos cidadãos e em prol da cidadania sendo tragados e se vendendo em detrimento dos direitos da população, não nos resta outra saída a não ser nos "reconscientizarmos".

É preciso ir além e transpor a barreira da ignorância humana, onde tudo parece já certo e resolvido e, desta forma então, prevalecem os senhores sempre prontos a reinar em tal ambiente.

É preciso sempre estar atento ao movimento da política. É preciso olhar com os olhos da alma e agir com os atos da razão. Não se pode esmorecer. Não se pode deixar prevalecer a astúcia daqueles que só querem impor o poder pela força.

Uma guerra não é feita somente de armas e bombas. A pior guerra é aquela que transcorre diariamente ao seu redor e você não a percebe.

É uma guerra sórdida, suja, e, traça a cada instante novos caminhos para transpor sua vontade. Sentimos isso ao redor e não podemos nos calar. O reinado de tais ditadores não deve se estender e nem se perpetuar.

A arma moderna dentro de uma sociedade justa, democrática e racional, é o poder da palavra, o poder do voto. Não devemos nunca esquecer destes trunfos que temos dentro de nós, ao alcance das mãos. Os poderosos só prevalecerão se nos curvarmos diante deles. É preciso se levantar e olhar bem dentro dos olhos dos abutres e mostrar que a verdadeira carniça está bem dentro deles. Dentro de suas almas. Dentro de seus corações.

Na sociedade fechada em que vivemos, inclusive por questões geográficas, essas faces se mostram mais próximas e ao mesmo tempo em que são mais perigosas, são também imensamente mais frágeis.

Precisamos encarar e entender que toda mudança depende da forma como encaramos o mundo. Depende da forma como reunimos forças e enfrentamos as injustiças. O que não podemos fazer é deixar nossa energia ser sugada pelas injustiças implantadas com o único intuito de enfraquecer nossa capacidade de reação. É preciso ação e, esta ação, tem que ser iniciada dentro de cada um de nós para que juntos possamos fazer a grande mudança, retomando nosso rumo em direção à conscientização.

Essa será a nossa grande vitória, a vitória da alma, a vitória dos corações.

Nenhuma injustiça é tão grande que não possamos derrotá-la. Nenhuma mentira é tão intensa que não possamos desmascará-la. Nenhum segredo é tão guardado que não possamos desvendá-lo.

Aqueles que se gabam por sua astúcia, enganam-se. Os olhos da alma nunca cegam e a mentira mundana sempre é revelada.

Pode-se enganar muitas pessoas por algum tempo. Algumas por muito tempo. Mas nunca poder-se-á enganar muitas pessoas o tempo todo.

Esse é o trunfo coletivo, ainda que ignorado pela consciência coletiva. É a sabedoria da vida que se mostra a cada dia e mostra quão fútil e volátil é a astúcia dos efêmeros.

Se, temos certeza da boa fé de nossa índole, não precisamos nos preocupar com a ética. Ela estará dentro de nós e será a grande energia que nos guiará ao encontro do justo.

Os princípios de um cidadão, regidos pela ética da existência, não se corrompem ante a inépcia dos incautos.

Enfim, o fim chegará e nos mostrará o verdadeiro princípio.


João Fernando Santini

Diretor Responsável / Tribuna de Ilhabela


Publicado: Ilhabela-SP

16 a 31 de março de 2003

Ano III - nº 42

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