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Oposição e princípios

A democracia brasileira padece da falta de princípios éticos e de moralidade. Não se pode assistir a história acontecer, sem nada fazer em prol do exercício pleno do direito à cidadania e à ética.

A política implantada desde os primórdios da república, baseia-se fundamentalmente num regime feudal, onde o desejo dos governantes é ser mantido no poder através da transmissão de cargos de pai para filho.

Quando se estabelece um regime de grilhões dentro de uma sociedade e, a sustentá-lo, estabelece-se um regime institucionalizado legislativo de submissão e subserviência, corre-se o risco de acompanharmos a morte lenta da ainda frágil democracia brasileira.

Os poderes, em tese, são independentes. Mas dentro destes regimes oligárquicos e centralizados, a falta de princípios éticos, chegam a extremos preocupantes de ilegalidade e conivência.

Não se pode permitir que um poder executivo legitimamente constituído tente se manter no poder através da total falta de ética e princípios e, estes princípios, devem ser conquistados e trabalhados dentro do poder legislativo, que é onde deveria haver o exercício pleno da cidadania conferida pelos eleitores para que a sociedade como um todo viesse a ser realmente democrática.

A principal atenção deve ser dada à Câmara de vereadores de um município, que é a Casa onde todas as arbitrariedades e mazelas oriúndas do poder executivo são legitimadas.

Não deve o cidadão ficar preocupado apenas com o executivo, que é onde os atos se tornam mais evidentes e públicos. Ele deve estar atento ao que ocorre dentro das sessões legislativas onde, em teoria, o poder do povo deveria estar presente através da opinião e posicionamento do vereador eleito pelo povo e para o povo.

Quando um vereador deixa de olhar para a comunidade e preocupa-se apenas com sua sobrevivência política e eleitoral, perde aí o elo da sobrevivência dos bons princípios morais.

Quando um vereador passa a agir de acordo com a vontade de um governante, governante este que o vereador deveria estar fiscalizando, começa então a degradação das instituições, garantindo então a sobrevivência política e institucionalização de regimes autoritários e onipresentes.

O domínio exercido de forma agressiva através de favores políticos e outras vantagens pessoais emana da vontade do vereador em fazer da política uma profissão. Pode-se até encarar como profissão o exercício político, desde que provido de ética e sentimento democrático dentro da sociedade.

A sustentação de um regime autoritário só se dá quando existem legisladores submissos e corruptos, que se prestam tão somente a colocar na balança seu voto; o voto do vale-quanto-pesa.

Quando dentro desta sociedade, corroída em seus valores e carcomida em seus princípios, surgem vozes contrárias a esta promiscuidade, aparecem logo os defensores do sistema para tratá-las como inimigas.

Não se pode contestar ou protestar, pois logo os que protestam são tratados de tal maneira como se inimigos da sociedade fossem. Oposição não se faz com incoerência e sim com consciência sobre o processo esmagador de deturpação da ética em prol da conivência, em prol da garantia da continuidade das vantagens e benefícios ao grupo que cerca o poder. Poder esse que cerceia o cidadão tentando aniquilar sua vontade de trabalhar pela integridade da vida e dos princípios morais.

É preciso que diariamente se exercite o direito à cidadania, cobrando dos eleitos transparência nos atos e atitudes. É preciso mostrar o que se tem. É preciso que todos tenham direito aos bens, embora seja necessário demonstrar que, o que se tem, é compatível com o que se faz. É preciso lisura.

Toda forma de poder é uma forma de opressão aos menos favorecidos ou desvalidos e essa forma de poder deve ser banida. É preciso coragem. É preciso ter vergonha de aceitar os fatos indecentes como corriqueiros e assim não aceitar que a vida é algo deprimente.

A prática da oposição política não deve ser encarada como forma de vida e sim como princípio no exercício do direito do homem à vida.

Não se pode deixar que a corrosão das instituições tome rumos gigantescos. É preciso enxergar ao nosso redor o princípio das deturpações e tentar, em harmonia com a sociedade civil devidamente organizada, mudar o rumo da história, da nossa história.

É preciso, porém, se lembrar que dentro de todo sistema corrompido sempre haverá vozes dispostas a se unir em prol da legalidade e da moralidade. Não se pode generalizar, pois senão, estaremos nós caídos na mesma tentação.

Não podemos querer como únicas as nossas idéias, assim como não queremos idéias únicas de opressão.


João Fernando Santini

Diretor Responsável / Tribuna de Ilhabela


Publicado: Ilhabela-SP

16 a 31 de julho de 2003

Ano IV - nº 47

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