Sociedade decadente
Quando se fala em sociedade, o que vem à mente da maioria dos mortais é aquele grupo de endinheirados, novos ricos ou velhos ricos falidos que, incansáveis, disputam um lugar nas colunas sociais da grande mídia. Seja ela impressa ou eletrônica. Basta para isso percorrer qualquer evento “social” com uma máquina fotográfica em punho que logo se verá o movimento das cabeças, em busca do pipocar do flash. É o fenômeno do mundo digitalizado e globalizado, onde todos anseiam pelo seu minuto de fama.
Mas qual conceito social pode ser apregoado como verdadeiro? A exposição pública fútil talvez seja o mote de redenção das almas vazias que vagueiam pela hight society.
Não é somente na grande mídia que os “alpinistas sociais” caçam seu espaço. É principalmente nas pequenas cidades, onde quer que se tenha uma publicação autodenominada de “social”. Esses escaladores da sociedade buscam um espaço para aparecer e desta forma acreditam que, estando com as caras expostas nestes meios, terão a projeção e a importância social que almejam.
Mas não é somente a exposição física o que tornará as pessoas parte integrante deste círculo vicioso e viciado, que é a sociedade moderna. Principalmente a sociedade retratada nas colunas sociais, vazia de almas. A verdadeira ascensão social se dará somente quando o indivíduo for, realmente, parte integrante do meio em que vive. Quando dentro deste meio buscar realizações que tenham caráter exclusivamente de cunho social. Este cunho social deve ser voltado para a solidariedade e os bons propósitos para com os seus semelhantes, a raça humana.
Engana-se aquele que pensa que por aparecer nestes tablóides fúteis e de conteúdo efêmero, será aceito pela comunidade como parte integrante da sociedade. Engana-se aquele que pensa que, com esta postura de figura eminente dentro da comunidade, conquistará o respeito e a credibilidade para se manter na frágil posição desprovida de alicerces, de um porto seguro, de uma alma limpa voltada para o bem.
Não se mantém a aparência quando não se tem estrutura. Uma casa não para em pé quando não há alicerces, e o alicerce seguro que se precisa não é adquirido com o dinheiro fácil, conquistado com a penúria do alheio. É preciso muito mais que “posição social” para um indivíduo ser integrado à comunidade. Acreditar que está dentro deste contexto, apenas por gozar de uma posição política no seio da sociedade, é tampouco suficiente para manter a casa da alma em pé e segura. O alicerce não suporta tantas mazelas. O peso da consciência coletiva será tão forte que a fragilidade estrutural dessas almas se mostrará, como o sol se mostra a cada manhã.
A ruptura com a própria consciência já se fez há muito, e desta forma os escaladores sociais não conseguirão manter por muito tempo seu falso brilho, sua falsa postura de cidadãos de bem.
Há sempre um momento, na vida do ser humano, em que ele é dono de sua própria verdade e esta tem que ser buscada a cada instante, mantendo-se atento à vida ao derredor, à sociedade em que se vive e ao mundo que nos impulsiona.
Há sempre momentos em que percebemos quando algo que nos chega tem aspecto falso. Nesses instantes temos que lapidar a verdade assim como um joalheiro lapida a pedra bruta e dela extrai um valioso brilhante. É preciso muito mais que conhecimento, é preciso vivência, a compreensão e lembrança das experiências pelas quais passamos. É preciso estar atento.
Em nossa comunidade observamos frequentemente exemplos desse tipo de comportamento, principalmente nos meios políticos, onde o que interessa mais ao cidadão é a garantia pessoal de sua independência financeira. Fazem da política uma profissão, e desta profissão uma porta aberta para a total falta de ética e bons propósitos para com a comunidade que os colocou na posição em que se encontram. Fazem da esperança humana sua mercadoria de troca, e, desta troca, constroem seu patrimônio.
É preciso atenção, é preciso estar com olhos e ouvidos bem abertos para não se iludir com uma “sociedade” decadente e desprovida de boas intenções.
João Fernando Santini
Diretor Responsável / Tribuna de Ilhabela
Publicado: Ilhabela-SP
16 a 30 de abril de 2003
Ano IV - nº 44
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